Hoje nem dormi.
Fiquei versando no falar de dentro. Falar versando prega mais.
Deus é paisagem.
E paisagem sempre sai bem na foto. Mas quando é fulano, cicrano, beltrano Moreira de não sei quê, com nome, endereço e telefone, aí a coisa muda. Aí a coisa surda. Aí a coisa sempre com algum defeitinho que necessite ser amado, porque não tem concerto. Amar a Deus é amar nossos próprios certos. Amar ao próximo é amar o feio. É amar a cobra grande que dorme na Lagoa. A cobra grande que é Lagoa porque não cabe no certo de ninguém. Mas existe mesmo assim.
Diz que perigo zombar de Assoviador.
É assovio longo o dele. Cansado, por carregar morto. Assovio de pegar tempo para continuar carregando. Se, no meio da noite, alguém repete o Assoviador, ele vem. Se transforma em perua, cachorro, cabra, morcego, e no que mais puder parecer de assombro. Depois vai embora. Deixa o susto guardado no aprender da pessoa. Medo também ensina.
Assovio de vento é grave ou agudo dependendo do caminho.
Pescador trabalhando de noite deixa o mar estrelado.
Às vezes preciso ser para dentro.
O mar nunca dorme.
Está sempre descansando vida. Enchente daqui é vazante d’acolá. O mar tapeteia um bom pedaço de mundo. E nesse pedaço é ele quem diz como o mundo deve ser. O mar dança com a lua. Nem manda nem obedece. Em tempo certo o mar se enche de lua e brilha bem querer. Em tempo certo o mar se prega com a linha do céu para não saber quem é quem. Quando o olho está dentro do mar, só existe mar. Quando o olho está na beirada do mar, o mundo escorre para fora.O desaquarelado do céu espera alguma palavra tropeçar em mim.
Cato com a mão e levo para você. Mas se as palavras forem junto com o vento, a mais colorida vai pousar maneira no seu ombro. Vai assoviar flor, siri, caga fogo, rede de dormir e tudo mais que combinar com teu olho marisquento. As palavras se combinam conforme o olho de dentro.
Xeru, meu lindo.
Borboleta.